quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tratados da Terra e da Gente




Fernão Cardim foi um missionário jesúita português do século XVI, que na rota de Pedro Álvares Cabral, viajou... originando diversos manuscritos, com informações sobre a vida da Colónia, o índio e a natureza do Brasil.
Descreveu e reconheceu «...neste Brasil é já outro Portugal».
Velhos tempos...
Hoje, uma infinidade de características separam, se assim o analisarmos, um Portugal formal de um Brasil informal. A diferença entre o legal e o ilegal.
A mesma raiz com degenerações... um tradicional, outro multi-cultural.
Falando de Terra e de Gente há que combinar a informalidade! De relações e de espaço!
Acrescentam-se dados á problemática social vivida no Brasil, reflectidos no espaço fisíco.
Segundo Pimenta em 1926 (num estudo médico sobre a cidade), o Rio de Janeiro nos anos vinte, vivia e sentia-se a discriminação social em favelas, pois eram vistas como “amontoados de imundices e podridões…”, conferindo à favela o carácter de lugar que nada tem.
Mais tarde, apartir da década de 40, sente-se a mudança de mentalidades.
Num espaço de setenta anos revela-se uma maturação de reflexões, que gradualmente se fizeram sentir sem nunca se definir se a favela seria realmente uma “cidade à parte”, discutindo a sua integração.
Na década de setenta, Perlman, lança a “teoria da marginalidade urbana”, como uma tentativa de reconhecimento das diferenças e semelhanças entre favelas e bairros como uma afirmação de "Poder".
Hoje em dia uma série de termos completam um vocabulário alusivo a favelas, prestigiando as favelas com a expressão “gueto” numa descrição de “exclusão social” e “nova marginalidade”, ou Comunidade numa atitude de aceitação, compreensão, conivência e cooperação, porque qualquer termo remete para a criação de mitos relativamente a este fragmento de cidade.
Contudo, há esforços comuns que reunidos formulam propostas como o programa "Favela-Bairro" (comparticipado pela Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro) em locais onde se anseia uma libertação, apelando a garantias de qualidade de vida das populações os ocupam.
Será que o "Favela-Bairro" em curso há 12 anos, concretiza os seus objectivos?
Será possível, neste cenário, o planeamento urbano, como solução?
Questiono-me sem obter respostas concretas, mas depois de conhecer de perto a Comunidade Fernão Capim, acredito em mutação. Quer concorde ou discorde, apontando consequências benéficas ou maléficas do programa, em Fernão Capim o "Favela-Bairro" não é um mero exemplar, Fernão Capim marca a diferença.
Os meus últimos pareceres resultam de um olhar atento, de 10 meses.
Revendo-me no missionário que dá nome a uma das comunidades da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, concordo em muito com a familiaridade que sinto neste país, convivendo com esta gente... e não deixo de ressaltar a dinâmica em falta na minha origem e a previabilidade de situações que organizam toda uma sociedade, que como Alberto Caeiro, vê no "Fado a criação de uma dor para curar outra dor", eu vejo como uma necessidade de um re-design de mentalidades.

3 comentários:

Anônimo disse...

verinha

que amadurecimento..sabes ao contrario do que se imagina, esta experiencia esta a revelar-se uma outra experiencia!e tu só tens a ganhar, tu e o teu futuro!antecipas-te o teu estagio

beijo

mafS disse...

verinha "arquitecta de pensamentos"


Meu amor


Concordo plenamente com a Tini :)



A tua experiencia revelou-se mais dura a divel pessoal... Balancaram as tuas estruturas mais solidas, algumas nao resistiram mesmo, mas ficaste tu, despida de preconceitos. Livre e pronta e com uma capacidade de analise ainda mais apurada.


Beijos mil, quero-te todo o bem, quero o bem que tu te quiseres.


*************


A sua preta :D

Mafa


PS: A fotografia esta la, inteira, para me lembrar de ti, e para me mostrar o que vives todos os dias ;)

Anônimo disse...

Vera Lúcida,

As pessoas mudam e melhoram, logo que passam a ser tratadas como tal...
O problema do informal, é que precisa de muito mais estrutura do que o formal, o Estado tem de existir até que se esgote a sua razão de existir - o que não é nada o caso por aí...
O que acho é que aprendeste como profissional, como as coisas se ligam e estão intimamente conectadas numa imensa teia - que é a vida, a nossa vida.

Beijinho,
João