quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Intemporal

Para Napoleão Bonaparte
Enviada de Navarra, em Abril de 1810
Milhares e milhares de agradecimentos carinhosos por não te teres esquecido de mim.
O meu filho trouxe-me agora a tua carta. Li-a com excitação, e, no entanto, gastei muito tempo com ela; pois não havia nela uma palavra que não me fizesse chorar. Mas essas lágrimas eram tão doces.
Encontrei novamente o meu coração, e como ele sempre será; há sentimentos que vivem por si mesmos e que só podem terminar juntamente com ele.
Ficaria eu em desespero se a minha carta do dia 19 te tivesse desagradado; não me lembro exactamente das expressões que usei, mas conheço cada sentimento doloroso que me ditou as palavras, fruto do desapontamento de não ter recebido notícias tuas. Escrevi-te aquando da minha partida de Malmaison; e, desde então, quantas vezes não desejei ter-te escrito mais vezes! Mas entendo os motivos por detrás do teu silêncio, e temia que uma carta tua me pudesse deixar triste. A que te envio foi revitalizadora para mim.
Fica contente; tão contente quanto mereces; é todo o meu coração que fala contigo. Tu também me deste a minha dose de alegria, uma partilha sentida vividamente; para mim, nada iguala uma demonstração da tua lembrança.
Adeus, meu amigo; agradeço-te com tanto carinho quanto o amor que sinto por ti.
Josefina
in Cartas de Amor de Grandes Mulheres

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